quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Alcançando o que está nas "estrelinhas".


Eis que hoje entrei na sala de aula, sentei-me na carteira e perguntei à colega à minha esquerda o por quê de a aula de Tópicos Especiais em Psicologia II não ter sido no laboratório de cinesiologia como previamente planejado.

Ela me conta que a reserva do laboratório havia sido confirmada por uma turma de Fisioterapia, apesar de ter havido também uma reserva pela nossa turma, ou pelo menos era o que constava para mim.

Perturbo-me com a informação. Questiono a professora sobre o que aconteceu. Por que não fomos ao laboratório? E a nossa atividade a ser realizada ficaria prejudicada? Se a reserva da outra turma ainda estava por confirmar, por que não se confirmou anteriormente a reserva de nossa turma? Por que temos que nos sujeitar a essa incompatibilidade de espaços e tempos, sendo que dispomos de um Centro Clínico de Psicologia da Faculdade e não o utilizamos (ou seja, não dispomos realmente dele), deixando-o mofando?

A professora me diz que não foi possível usar o laboratório, então teríamos que realizar outra atividade em detrimento da anterior.

Questiono mais uma vez. A professora parece se perturbar com minha atitude e diz que não pode fazer nada. Reclamo que ninguém na turma reage contra isso. Ela diz que ela não tem culpa se a turma é cheia de inúteis e me aconselha a sair da sala se isso me incomoda. Uma discussão se inicia entre eu e a professora.

A turma silencia. Onde antes havia uma reverberação de risos e falas agora há um quase silêncio, ocorrendo apenas as farpas entre aluno e professora.

"Esse seu discurso cheio de ideologia libertária mas que está todo institucionalizado."

"O quê? Eu institucionalizada?"

"Isso mesmo."

"Se tu te incomodas então sai da sala."

(Algumas de nossas falas, mais ou menos)

Um clima estranho segura a 4PSM-2.

De repente, uma pessoa diz "vocês estão dramatizandoooo."

Eu deveria ter mandado essa pessoa calar a boca imediatamente. Mas não pude. Eu não esperava por aquilo. Perdi minhas forças. Fiquei sem palavras.

Quem imaginaria que um dos principais nerds da turma (Eu) iria entrar em conflito com a professora de Psicologia Social II e Tópicos Especiais em Psicologia II, justamente uma das professoras com quem ele já teve discussões sempre amigáveis e respeitosas???

Frustrado.

Nosso Teatro Invisível... FRUSTRADO!!! Huhqauhauhuahuheu...!!! xD

Realmente, segundo o que algumas pessoas disseram, a atmosfera da sala naquele momento era de medo. Era algo inconcebível que tal atrito se estabelecesse assim tão repentinamente.

"O quê o Renan tá falando??? Manda ele calar a boca!!!"

Nossa turma, a 4PSM-2, é uma turma bem amigável, onde nem todos são amigos tão próximos, há algumas briguinhas vez ou outra, mas todos se dispõem a permanecer unidos, mantendo uma certa tranquilidade no cotidiano acadêmico.

Quando, ainda que com as diferenças existentes e algumas incompatibilidades, escolhemos nos relacionar através da sociabilidade amigável e do afeto torna-se difícil mentir nossos atos. Algumas brigas, conflitos, situações difíceis, intolerância e desrespeito já se instalaram algumas poucas vezes na nossa turma, mas nada que não tenha se resolvido ou adaptado até o dado momento.

A pessoa que disse que estávamos dramatizando também estava com medo do que estava ocorrendo. Ela disse isso como uma tentativa de amenizar a circunstância. Poderíamos ter continuado com o nosso Teatro Invisível, proposta dada pela própria professora durante a aula anterior dessa mesma disciplina, mas para isso nós teríamos que ter sido mais rígidos, mais insensíveis. Eu deveria tê-la mandado calar a boca e continuado minha discussão com a professora. Mas eu não tive coragem para tanto. O Teatro Invisível foi desmascarado por nós mesmos que pensamos ter sido desmascarados pela colega, quando na verdade ela estava espantada conosco.

Eu já tive brigas feias com pessoas que amo. Quem nunca teve? Mas eu sempre fiz o possível, e até mesmo o que eu pensava que eu nunca faria, para resolver uma mágoa mútua, uma raiva corrosiva e aquela dúvida melancólica que acomete as pessoas que brigam mas que se amam. Os vínculos afetivos estabelecidos entre as pessoas fazem com que existam determinados códigos entre as pessoas em seus relacionamentos. Códigos estes que denotam a tristeza e o arrependimento de se ter brigado com uma pessoa amada ou magoado-a. Seja um pai, uma mãe, irmãos, amigos, namorados ou o quer que seja, uma briga cria feridas que só podem ser sanadas quando os interlocutores se põem diante um do outro e esclarecem seus problemas e aprendem juntos.

Devemos sempre estreitar esses laços relacionais que nos unem, porque assim, quando os vínculos são abstratamente sólidos, nem a menor e muito menos a maior das tempestades pode abalar a relação.

Eu não sei jogar com o sentimento das pessoas, principalmente aquelas que me são próximas. A turma percebeu o que se escondia nas "estrelinhas" de nossas falas, apesar do medo de intervir. Quando alguém interviu nós nos desarmamos. Nosso Teatro Invisível ruiu, mas ainda assim alcançou parte de seu objetivo e serviu para nós (ou pelo menos alguns de nós) refletirmos sobre a complexidade da proximidade nas relações humanas. E espero que essa complexidade otimista, que até admite conflitos, mas que não concebe rupturas definitivas e arbitrárias, permita-nos o convívio sempre pautado no respeito e que, caso alguns de nós venha a tremer e cair, seja possível haver sempre algum elemento com iniciativa para resgatar a integridade de nossa união.

Um comentário:

  1. tu vais brigar comigo? ;___;
    eu não quero brigar contigo ;_____;
    te amo, e to com muitas saudades ♥

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